sexta-feira, 13 de março de 2009

Para se ficar "sempre brabo de alegre"

Esta postagem tenta oferecer resposta a uma pergunta feita pessoalmente por meu amigo Heitor - olha eu expondo o amigo às luzes da rede -, o htsj, que aparece aqui, até agora, como o único seguidor deste blogue, o que não significa que não haja milhares deles, anônimos, tímidos, retraídos, sei lá... Ou que ele talvez seja o único com coragem e capacidade para romper todos os obstáculos impostos pelo Blogger a quem deseja se manifestar, ou oferecer sua opinião aos leitores e ao autor destas postagens.

Brincadeiras à parte, para responder à pergunta do Heitor, a respeito da alegria, indiquei a ele a leitura de um trecho do conto Campo Geral, de Guimarães Rosa, em que ele fala de Miguilim, menino dado a tristezas, em um momento em que ele já tinha meio que perdido "o gôsto de se esconder, de se apartar às vezes da companhia dos outros, conforme tanto de-primeiro êle apreciava. Mas, agora, de repente achava que, se sòzinho, então - por certo encoberto modo - aí era que êle era mais sabido de todos, mais enxergado e medido. ... Queria que tudo fôsse igual ao igual, sem esparrame nenhum, nunca, sem espanto novo de assunto, mas o pessoal da família cada um lidando em suas miúdas obrigações, no usozinho. Que - se ele mesmo desse de viver mais forte, então puxava perigo de desmanchar o esquecimento de Deus...

O companheiro e confidente de Miguilim no conto era seu irmão Dito a quem Miguilim consultava muitas vezes. Mas mesmo depois que o Dito morre, lá na frente, com a história adiantada, Miguilim, lembrando das coisas que ele dizia, comenta que "... O Dito dizia que o certo era a gente estar sempre brabo de alegre, alegre por dentro, mesmo com tudo de ruim que acontecesse, alegre nas profundas. Podia? Alegre era a gente viver devagarinho, miudinho, não se importando demais com coisa nenhuma..."

Acho que tanto no primeiro momento quanto no segundo se fala da alegria. No primeiro, o que transparece é a forma mais simples e verdadeira de alegria. Pois existirá uma forma mais autêntica de se pensar na alegria, ou mesmo de celebrá-la e vivê-la no dia a dia, do que evocar a imagem de um mundo no qual a ordem das coisas seja a mais natural possível, tudo "igual ao igual"? Aliás, há alguma ordem no mundo que consiga escapar à natural?

No segundo, quer se entenda assim, quer não, parece-me que se está exatamente a entender de forma clara e profunda a ordem natural. Para se viver a alegria tem-se de ficar "alegre por dentro, mesmo com tudo de ruim que acontecesse, alegre nas profundas". Porque bom e ruim são apenas pontos de vista, perspectivas. O que nos parece ruim nalgum momento pode vir a se revelar a melhor coisa que já nos aconteceu. Obedece-se aí também à ordem natural das coisas.
Não lhes parece?

2 comentários:

  1. A Alegria deveria estar presente em todos os momentos, mesmo naqueles em que a tristeza desce como uma sombra escura. Sabedoria do Dito.
    Duplamente grato a você Moisés
    Por responder minha duvida e por compartilhar o seu conhecimento através deste blog
    Heitor

    ResponderExcluir
  2. Moisés
    Estou "mergulhada" no outro blog e no trabalho, na correria por conta do Imposto de Renda, mas tão logo possível vou comentar, aliás tenho um monte de livros para comentar e a Edna (está lendo poesia) e tentou postar um comentário na inauguração do blog, quer te contar a experiência dela e brevemente o fará.
    Correria / IR / faculdade...Nos aguarde!

    ResponderExcluir

Caros, caras, os comentários às postagens são bem-vindos. Apenas lhes peço a paciência de me permitirem revisar a pertinência do comentário com a postagem e a ortografia. Agradeço por sugestões de leituras, perguntas e informações que enriqueçam a Sala. Obrigado.