Na semana passada, compareci a uma sessão de lançamento de uma antologia de poesia contemporânea. A sessão começou com uma apresentação do professor Ivan Marques, que escreve um pósfácio para a antologia e, presentes, sete dos treze poetas destacados pela antologia fizeram a leitura de alguns de seus próprios poemas. Além deles também estavam os organizadores e amigos e familiares dos poetas e amigos e amigas dos amigos e dos familiares dos poetas. Enfim, uma reunião digna de registro neste espaço, entre outras coisas, por se tratar de pessoas amigas que cultivam laços fortes com livros, leituras e literatura.
Quase posso dizer que conheço pessoalmente todos os presentes. Jornalistas, escritores, poetas, professores e pessoas ligadas à literatura, aos meios de comunicação e à cultura. E esta abertura é apenas um pretexto para um comentário que fiz a alguém na ocasião, ao lembrar que, na época em que era estudante, os escritores, poetas, autores e as pessoas que, em geral, apareciam ou eram citadas nos livros, eram deuses, ou semi-deuses. Não me passava jamais pela cabeça, e acho que nem pela cabeça de nenhum de meus colegas, que fosse possível algum dia ter contato próximo com alguém que tivesse escrito uma poesia que aparecera publicada em um livro. Ou com alguém que tivesse escrito um livro inteiro, de poesias ou mesmo prosa.
Anos depois, em Porto Alegre, visitei uma das edições da famosa Feira do Livro e fiquei entusiamadíssimo com o fato de ter conseguido o autógrafo de dois grandes escritores para os livros que comprara. Darcy Ribeiro autografou para mim seu livro Ensaios Insólitos e Josué Guimarães, grande escritor gaúcho, autografou seu Camilo Mortágua, um livro que sempre merece ser lido e relido. Para quem não o conhece, imagine-se um velho que, ao entrar em uma sala de cinema para assistir a um filme sobre Cleópatra, percebe, ao se iniciar a sessão, que o que se passa na tela não é nada mais, nada menos, do que uma narrativa pelas imagens que retrata toda a sua vida.
Na primeira orelha da capa original desta primeira edição autografada que possuo, o editor nos convida à leitura dizendo que Josué Guimarães, em seu novo romance, nos oferece "um painel inédito de sua ficção, contando de maneira apaixonante a decadência de uma família de pecuaristas, da fronteira gaúcha, com todas as suas misérias e grandezas". Diz ainda que, de certa forma, a "história de Camilo Mortágua reproduz o drama de dezenas de famílias gaúchas que, baseando seus rendimentos na exploração de rebanhos na fronteira, levaram suas vidas luxuosas na capital do Estado, num fausto que fez época e que, com o passar do tempo, terminou por arruiná-las". Uma narrativa que mescla fantasia e realidade de homens e mulheres "que se movimentam com independência na trama de suas vidas" e que poderia perfeitamente se transformar em roteiro para um filme excelente, como tantos saídos da ficção de nossos autores preferidos.
Bem, divaguei um pouco... Voltemos ao lançamento. Apenas para informar a quem me lê e se interessa por poesia. A antologia, publicada pela editora Scipione, se chama Traçados Diversos e traz poemas de Fabrício Corsaletti, Antonio Cicero, Fernando Paixão, Donizete Galvão, Annita Costa Malufe, Heitor Ferraz Mello, Ruy Proença, Fabio Weintraub, Ricardo Aleixo, Arnaldo Antunes, Chacal, Bruna Beber e Fabiano Calixto. Vale a pena destacar um poema do Ruy, de que gosto muito, a respeito do qual é possível se fazer uma profunda reflexão. O poema se intitula Tiranias e diz o seguinte:
antigamente/diziam: cuidado,/as paredes têm ouvidos
então/falávamos baixo/nos policiávamos
hoje/as coisas mudaram:/os ouvidos têm paredes
de nada/adianta/gritar
Aproveito aqui ainda para dar as boas vindas à Margarida Constantino entre nós. Espero que ela possa permanecer conosco por muito tempo e trazer suas contribuições, indicando-nos livros e leituras.
sexta-feira, 27 de março de 2009
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Muito obrigada pelas boas vindas, não esperava uma recepção destas. Espero ficar a conhecer novos autores neste Blog, gosto muito de literatura e de poesia mas não conheço quase nada da literatura brasileira, exceto os clássicos,claro. Também gostaria de dar a conhecer alguns autores portugueses, se for oportuno. Para já, e como hoje publiquei no meu Blog um pequeno poema de um autor português (João José Cochofel), tomo a liberdade de o reproduzir:
ResponderExcluirFaz que a vida seja o que te nega
A luta é tua - fá-la.
Agora os sonhos em farrapos,
melhor é a luta que pensá-la.
Ergue com o vigor do teu pulso;
solda-o em aço.
E da tua obra afirma:
- Sou o que faço.
Sim, sim, Welvitichia, é claro que os autores portugueses são bem-vindos. Como deves saber temos laços profundos e grandes débitos para com a literatura de Portugal, a quem somos todos imensamente agradecidos. Apenas para citar, gosto muito de Miguel Torga, tanto de sua poesia, quanto de sua prosa. Vamos falar a respeito dele mais adiante, espero.
ResponderExcluirObrigado por te manifestares.
Também admiro a obra de Miguel Torga,falarei sobre ele com muito prazer. E já agora, gosto de referir que há uma literatura de expressão portuguesa com muito valor,há bons autores em todos os PALOP. A nossa lingua é muito rica, talvez por isso propicíe o aparecimento de bons autores.
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