terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Não há como fugir à magia do olhar de Rosa


Bons dias a todos!

Estimulado pela adesão de mais uma amiga, volto a falar de livros e de leituras, depois de algum tempo sem entrar nesta sala.

Acho que andei negligenciando até o que é uma necessidade pessoal, que é a de dividir com amigos, conhecidos e com quem quer que se apresente e goste de ler, de livros e de "causos" acerca de livros, de leituras e de autores.

Não lembro se já comentei aqui que participo, desde 2008, de um grupo de leitura de Guimarães Rosa, na USP, no Instituto de Estudos Brasileiros - o IEB. Para quem se interessar, é um grupo aberto, não se faz uma leitura formal e não se trabalha sob a perspectiva da crítica ou da análise literárias. É uma atividade que visa a tão somente abrir aos participantes a possibilidade do deleite e do prazer, a partir da escrita rosiana.

É claro que, algumas vezes, temos a presença de professores, que estão a escrever suas teses de mestrado e doutorado, e de estudantes que escrevem seus TCCs, além de escritores e autores que já se debruçaram sobre a obra do autor e publicaram suas impressões e estudos, para esclarecimento e melhor entendimento das dimensões da obra, mas mesmo estes não comparecem senão para dividir o encanto que encontraram na leitura de Rosa ou para mostrar algum aspecto que, por vezes, pode ter passado despercebido para um ou outro estudioso, ou ainda para mostrar um novo ângulo a partir do qual podemos olhar para a obra enriquecendo nossa experiência de leitores.

Este começo assim é apenas para dizer que, uma vez feito o contato com o texto rosiano, não há como fugir à magia com a qual o olhar de Rosa para o mundo nos enfeitiça e encanta. Assim é que, a partir de 2008, e nos anos que se seguiram, vi-me compelido a "montar" uma "rosiana". Isto é, comecei a comprar e ler tudo o que me chegava às mãos e que tratava - e trata - da obra de Guimarães Rosa.

Hoje mesmo, acabei de ler um livro com um título, eu diria, um tanto esdrúxulo para quem não está familiarizado com o "bruxo da linguagem", conforme Consuelo Albergaria. O livro se chama: "Conjunctio Oppositorum no GRANDE SERTÃO". Escrito como dissertação de mestrado em Filosofia, por Ricardo Guilherme Dicke, em 1982, ele trata de mostrar ao leitor de Rosa, como é que se dá a União dos Opostos, ao longo de toda a epopeia narrada por Riobaldo no Grande Sertão: Veredas. E considera e defende para Diadorim o posto de personagem principal do livro, por conjugar todas as oposições em si.

Para quem ainda não leu Guimarães Rosa e, especificamente, o Grande Sertão, vale chamar a atenção para o que Dicke traz, citando Nelly Novaes Coelho, como forma de diferenciar o modo de escrever de Rosa, comparado a outros escritores contemporâneos seus. Diz Nelly, citada por Dicke:

"Múltiplas foram as descobertas que ela [a obra de Guimarães Rosa] trouxe ou provocou, e uma das que de imediato tocou seu leitor foi a da alegria vital que o homem civilizado perdera (ou perdeu?).

"Alegria como dinâmico estado de espírito; júbilo estranho que arraiga fundo no ser, a despeito dos contrários e desconformes da vida (ou talvez devido a eles), é o que caracteriza o herói rosiano, - homem organicamente integrado no universo, e vórtice em que confluem forças contraditórias.

"Note-se que o desenlace de todas as narrativas de Guimarães Rosa fogem ao pessimismo e à desesperança que marca certa linha da literatura contemporânea, - a literatura que reflete o homem 'dessacralizado', o homem que, com a perda de Deus, perdeu seu equilíbrio vital e sua ligação com o universo.

"Paralelamente a essa alegria essencial, se afirma na personagem rosiana uma nova e selvagem religiosidade. Um espírito religioso primitivo, quase violento, de onde a antiga mansidão e êxtase espirituais, características da consciência cristã ortodoxa, estão totalmente ausentes. A religião vivida pelo herói rosiano é de outra natureza: aproxima-se do sentido primitivo do termo, guardado em seu significado etimológico: 'religio', - re-ligação do homem ao universo cósmico, ao que transcende o seu entendimento, mas que abarca o humano como parte do todo."

Que lhes parece isso como estímulo à leitura de Guimarães Rosa?

Como eu digo cada vez que publico um texto novo, espero voltar mais frequentemente e em intervalos menores para repartir com vocês as emoções e descobertas a que me levam minhas leituras. Creio que a partir de agora, vai ser possível.

E para registrar o estímulo que me fez cometer este novo texto, quero deixar meu agradecimento por você se ter juntado a nós, Mara. Bem-vinda. Espero que possamos você e eu, e quem mais quiser, trocar ideias e impressões acerca dos livros que nos emocionam e enriquecem nossa experiência. Fique, por favor, à vontade para publicar também seus comentários e insights a partir de leituras, livros e autores. Assim como estão todos mais uma vez convidados a isto.

Até logo!



quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Um novo recomeço? Redundância?


Olá,

Há quanto tempo, não?

Esta é mais uma tentativa de voltar a falar de minhas leituras, dos livros que li, dos que estão na fila esperando para serem abertos e de alguma coisa do que aprendi com eles.

Espero que, a partir desta postagem, eu consiga não me demorar mais por tanto tempo, para lhes oferecer um cardápio de leituras recheado de delícias, apresentando-lhes os mais variados temperos e sabores. Para que juntos aprendamos a provar um pouco de tudo, a desfrutar um pouco de tudo, ou de quase tudo, o que escritores do mundo inteiro reservam para aqueles que ousam abrir os livros que brotaram de sua imaginação e/ou de sua experiência.

Para cumprir, em parte, o que prometi da última vez, vamos voltar ao livro de Dave Eggers: O que é o Quê?

Bem, para começar, posso dizer que o livro escrito por Eggers é, na verdade, como se pode ver em seu subtítulo, a Autobiografia de Valentino Achak Deng.

Como?

Sim, pode parecer estranho, a princípio, mas é isto mesmo. O que Eggers faz é dar voz a um dos Meninos Perdidos do Sudão. Ora, dirão vocês, o que é isso? E eu lhes respondo, é preciso ler o livro para se ter uma ideia do que vem a ser esta coisa de "Meninos Perdidos do Sudão".

Para facilitar um pouquinho dou-lhes abaixo uma pequena resenha do que é o livro, retirada da última capa, que diz o seguinte:

"Em um país dividido ao meio por crenças religiosa e interesses econômicos, 20 mil crianças, [em sua] maioria órfãs, são obrigadas a atravessar a pé milhares de quilômetros de floresta e deserto em busca de refúgio. Acossadas por milicianos a serviço do governo, por rebeldes e pelas próprias Forças Armadas, elas enfrentam a fome, sede, calor escaldante, doenças e animais selvagens a caminho da Etiópia e, de lá, rumo a um campo de refugiados no Quênia. São os Meninos Perdidos do Sudão - um país que passou cerca de quarenta dos últimos cinqüenta anos em guerra civil.

"Valentinho Achak Deng é um desses meninos. Depois de presenciar a destruição de sua aldeia natal em 1983 e de, aos sete anos de idade, atravessar metade do Sudão a pé, Deng passou treze anos em campos de refugiados, até emigrar para os Estados Unidos em 2001. Lá, conheceu o escrito Dave Eggers, para quem narrou essa história pessoal e coletiva de incomensurável valor humano, transformada neste romance em forma de autobiografia, que, além de uma lição de vida e persistência, nos dá a dimensão exata do poder da literatura."

Um trabalho e tanto de Eggers, que escreveu também, entre outros, um livro intitulado Os Monstros, baseado no livro ilustrado Onde vivem os monstros, de Maurice Sendak, e no roteiro do filme homônimo, escrito por D. E. E Spike Jonze.

Eggers, que nasceu em Boston, em 1970, fundou uma editora independente em São Fransciso, a McSweeney's, e é co-fundador da 826 National, uma instituição de ensino e incentivo da escrita para crianças e adolescentes.

Acho que é importante dizer também, para quem quiser ler o O que é o Quê, que toda a renda obtida com o livro será revertida para a Fundação Valentino Achak Deng, que distribui dinheiro para refugiados sudaneses nos Estados Unidos; para a reconstrução do sul do Sudão, a começar por Marial Bai; para organizações que trabalham para a obtenção da paz e que prestam auxílio humanitário em Darfur.

Pode-se obter mais informações no site:

www.valentinoachakdeng.org.

Acho que por enquanto é isto.

Espero encontrá-los por aqui em breve.