quinta-feira, 19 de março de 2009

E se o livro não for interessante?

Quando começas a ler um livro, faze-o por quê? Ou, em outras palavras, o que te leva a ler um livro? A indicação de alguém, a resenha do livro em jornais, revistas ou catálogos de livrarias e sites? De que maneira determinas a leitura que vais fazer? Lês apenas livros que tratam de um assunto ou tema de teu interesse? Ou és curioso(a) a ponto de escolher um livro por seu título, por sua capa? Já chegaste a ler um livro porque alguém falou mal dele, ou do autor?

Quando começas a ler um livro gostas de saber de antemão do que ele trata? De que fala? Isto é, já tiveste conhecimento do livro por aquilo que a crítica e a imprensa falaram dele? Há um autor de quem esperas ansiosamente o livro seguinte? Há um autor de quem não queres nem ouvir falar?

E se, ao começar a ler um livro, ele se mostrasse surpreendente, com idas e vindas abruptas, com mudança de cenários e temas, revelando-se até mesmo ser bastante diferente daquilo que esperavas? Mais, não se revelando em absoluto, mostrando uma surpresa e uma reviravolta atrás de outra? Indo muito além daquilo que costumas esperar de um romance?

Estas perguntas todas são apenas retóricas, uma vez que ninguém vai respondê-las. Ou melhor, uma vez que não espero nenhuma resposta para elas. São apenas uma provocação, um convite a que penses com mais vagar a respeito dos motivos pelos quais lês, o que lês e o que gostas de ler. Elas também têm a intenção de despertar tua curiosidade e/ou interesse para um escritor italiano muito conhecido. Particularmente para um de seus livros. Aquele intitulado Se um viajante numa noite de inverno.

Um livro típico de um autor de gênio a respeito do qual o próprio Italo Calvino disse tratar-se "de um romance sobre o prazer de ler romances; [um romance no qual] o protagonista é o Leitor, que por dez vezes recomeça a ler um livro que, em razão de vicissitudes alheias a sua vontade, ele não consegue terminar. Tive, portanto, de escrever o início de uma dezena de romances de autores imaginários, todos de algum modo diferentes de mim e diferentes entre si: um romance todo de desconfianças e sentimentos confusos; outro todo de sensações densas e sanguíneas; um introspectivo e simbólico; um existencial revolucionário; um cínico-brutal; um de manias obsessivas; um lógico e geométrico; um erótico-pervertido; um telúrico-primordial; um apocalíptico-alegórico. Mais que identificar-me com o autor de cada um dos dez romances, procurei identificar-me com o leitor - representar o prazer da leitura deste ou daquele gênero, mais que o texto propriamente dito. Em alguns momentos, cheguei a sentir que a energia criativa desses dez autores inexistentes me penetrava. Mas, sobretudo, tentei evidenciar o fato de que todo livro nasce na presença de outros livros, em relação e em confronto com outros livros".

Na última capa o editor diz o seguinte: "Este romance que está em suas mãos é uma obra-prima de engenhosidade, humor e inteligência. Ele contém histórias de amor, suspense, conflito, mistério, erotismo, filosofia, guerra, realismo fantástico. É um daqueles livros que mantém viva a expectativa criada desde o início e obriga o leitor a continuar a leitura, na busca da satisfação plena do fim. Mas cuidado, leitor amigo: estes trezentos framas de papel impresso podem ser traiçoeiras, levá-lo por caminhos angustiantes e deixá-lo com grandes frustrações. São como um campo minado: avance atento, perceba o jogo de espelhos, fique de olho nos detalhes, para conseguir chegar ao gozo final".

Boa leitura!

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