quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Leituras que fecharam um ano e abriram o novo


Olá!

Aqui vamos nós novamente!

Falemos um pouco mais de livros e leituras.

Um pequeno parêntese antes, que também tem a ver com o assunto...

Não sei [sei que não, na verdade] se já lhes falei que tenho uma livraria virtual. Está hospedada no site da estante virtual, um site administrado pelo Magazine Luiza, que já pertenceu à Livraria Cultura, depois que seu fundador o vendeu. Lá ponho à venda alguns livros de minha biblioteca e outros adquiridos de terceiros ou recebidos como doação ou de parceiros que querem vender alguns de seus livros. 

Os títulos que disponho para a venda no site estão lá porque já não me interessam, ou porque tratam de assuntos outros diferentes daqueles de que me ocupo, ou ainda para colocar à disposição de quem queira alguns títulos que já não são mais editados, raros ou curiosos, ou para facilitar o acesso a livros, por preços melhores do que os novos saídos das editoras e em exposição para venda em livrarias físicas.

Para quem se interessar, ela se chama Biblioterapia Livros e pode ser acessada no seguinte link:

https://www.estantevirtual.com.br/livreiros/biblioterapia

Mas não era disso que eu queria falar. E sim de livros e de leituras, repetindo. Aliás, o propósito para o surgimento desta sala.

Li há pouco um livro, pequeno mas delicioso. Trata-se de "Caligrafias", de Adriana Lisboa. 

Nele, Adriana publica o que chama de pequenas narrativas, escritas no período entre 1996 e 2004. O livro é ainda ilustrado com desenhos a nanquim, se não estou enganado, de Gianguido Bonfanti.

É um pequeno livro, com pequenas narrativas que estão mais para poesia em prosa do que para outra forma de literatura. São textos lindos. Emocionantes. Vale muito a pena ler.

Um pequeno trecho, extraído de um texto com o título Saudade:

"A segunda-feira vazara do domingo como se fosse sobra, como se não tivesse o direito de existir dia autônomo."

E outro, de Geografia ( aqui eu o reeditei em formato de poesia):

"Na chapada tudo é grande.

O céu só termina

quando o seu olhar desiste, 

ou quando a miopia te vence.

Caminhe o dia inteiro

e confira no mapa:

Você só cobriu o espaço

que basta ao seu cansaço."

O que acham?

Os dois últimos textos no livro têm, ambos, o título Eternidade e são absolutamente sensacionais, merecedores, sem dúvida, de uma reflexão que dure pelo menos... uma eternidade.

Esta foi uma de minhas primeiras leituras deste 2024.

Encerrei o ano de 2023, com o fim da leitura de um livro do poeta gaúcho Mario Quintana, intitulado "Porta Giratória", ao qual também acredito valer a visita.

Óbvio é que não há mais o que se dizer da escrita de Quintana, quer de sua poesia, quer de sua prosa. Este não é um livro de poesia, apesar de estar recheado dela de ponta a ponta, ou de ponto a ponto. Uma delícia de se ler, daqueles livros que a pessoa abre em qualquer página e encontra uma boa nota para se harmonizar ao momento que vive, seja ele qual for.

Por exemplo, ao falar da poesia como Instrumento, ele diz:

"O encantado espanto que senti quando fiz a primeira poesia ainda perdura até hoje: jamais me esquecerei daquele inábil, daquele medroso toque no instrumento desconhecido... E - até hoje - este receio de uma nota em falso!"

Ou então, ao falar da diferença entre um poeta e um louco:

"A diferença entre um poeta e um louco é que o poeta sabe que é louco... Porque a poesia é uma loucura lúcida."

E para não me estender muito nesta conversa, que espero não chateie ninguém, vou só citar um pequeno grande livro que li entre o finalzinho de 23 e o início de 24. "o lavrador de ipanema", do cronista Rubem Braga, um presente de uma amiga querida. O pequeno volume, de edição limitada e muito bonita, reúne as "crônicas de amor à natureza", numa seleção feita no capricho por Januária Cristina Alves e Leusa Araújo. Um livro para se ler como quem saboreia o líquido mais precioso degustando gole a gole. Ou a melhor sobremesa, ou o fruto favorito maduro e saboroso.

É isso por hoje. Até a próxima. Em breve.


sábado, 27 de janeiro de 2024

Por que ler "pequenas delicadezas"

 Janeiro de 2024.

Faz quase mais de dois anos que não publico nada por aqui.

Tomei, porém, a decisão, neste ano, de voltar à Sala de Leitura, para compartilhar, com quiser me ler, alguma coisa de minhas leituras dos anos que se passaram desde que abri a sala. E não foram poucas.

Comecemos, pois, pela leitura mais recente:

"pequenas delicadezas

conselhos sobre 

o amor e a vida"

Este é o título do livro de Cheryl Strayed, autora também de "Livre - a jornada de uma mulher em busca do recomeço". Um livro que virou filme com o protagonismo de Reese Witherspoon. 

Ao que interessa!

"pequenas delicadezas", livro que me foi indicado por um professor carioca, Alex Castro, com quem tenho feito alguns cursos sobre história e literatura desde a pandemia, é um livro cuja leitura deveria ser obrigatória para as pessoas todas que buscam saber mais sobre si mesmas, sobre as experiências que escolher viver e sobre as decisões que precisam ser tomadas a respeito de nossas vidas e que muitas vezes temos medo de tomar. Ou por não sabermos exatamente como proceder, ou por termos medo de nos machucarmos ou machucarmos as pessoas envolvidas.

O livro traz uma série de conselhos dados por Cheryl a pessoas que escreviam a ela a partir de um site e trata dos mais variados assuntos. Todos tendo a ver com a experiência que cada um e cada uma de nós escolhe viver em determinado momento na vida.

É possível perceber, quando pensamos, por exemplo, que só nós passamos por determinada situação, que outras pessoas também passam pelos perrengues que julgamos exclusivos. E que elas também ficam confusas acerca de que caminho seguir. Que decisões tomar. 

É claro que é muito difícil resumir em um pequeno espaço como este tudo o que cada um e cada uma pode apreender da leitura de um livro como este, mas creio que vale muito a pena lê-lo. Para percebermos que não estamos sós. Que os dilemas e as questões que nos afligem não são só nossos, não se referem somente a nossa vida. Estamos todos num barco só. A vida. E precisamos força e precisamos luz para que nossos caminhos se abram, para que a caminhada se torne mais leve e o terreno em que pisamos menos acidentado. 

Não podemos, porém, pretender-nos donos da verdade. A sabedoria começa a se apresentar a nós, quando começamos a aprender a escutar. Quando começamos a aprender a ouvir o que a vida tem a nos dizer. Não só aquela que pensamos ser a nossa vida, e que é única, pelo menos se pensarmos que todas as escolhas que fazemos - e as que fizemos até agora - são nossas e foram, e são, elas que nos puseram no lugar aonde nos encontramos.

Acabei hoje a leitura. 

Dos últimos pontos que li, eu destacaria o seguinte:

"... não temos como saber o que vai acontecer em nossas vidas. Nós vivemos e temos experiências e deixamos as pessoas que amamos e somos deixados por elas. As pessoas que pensamos que ficariam conosco para sempre não ficam e as pessoas que não sabíamos que entrariam em nossas vidas ficam. Nossa missão aqui é manter a fé nisso, colocá-la numa caixa e esperar. Confiar que algum dia nós saberemos seu significado de modo que quando um milagre corriqueiro nos é revelado nós estaremos lá... [gratos] por todas as pequenas coisas."

E, para terminar, algo que ela diz já bem no fim do livro sobre o que acho que vale a pena refletir:

"A aceitação é uma sala silenciosa e pequena".

Se vocês resolverem ler o livro, boa leitura.

Até a próxima!


terça-feira, 30 de agosto de 2022

Bem-vindos à Sala de Leitura

Caros, caras, bem-vindos. Eis aqui um novo lugar para nossos encontros. Aqui, eles não precisam se limitar a apenas um enfoque, a um assunto apenas. Podem se referir a quaisquer temas, desde que, sugiro, espero, ligados ao prazer da leitura. Este é um espaço para quem gosta de ler. É um espaço para quem gosta de dividir o prazer de sua leitura. Aqui vamos falar de poesia, de prosa, dos clássicos, dos modernos. Podemos falar de romances policiais, de mistério, de humor. Podemos trazer à tona textos que tratem dos mais variados temas do interesse humano. E sugerir leituras. E falar do livro que lemos no momento. E até mesmo revelar as emoções que a fala de determinado(a) autor(a), ou de seus personagens, provoca em nós. Ou as associações que ela nos permite fazer. Ou a viagem a que ela nos convida. Ou ainda os sonhos que ela nos desperta. Gostaria de convidá-los a viajarem pelo universo da leitura, saboreando os mais variados pratos. Não na posição de um "gourmet", de um "expert", de um "connaisseur", ou de um especialista. Não na condição de um estudioso, de um acadêmico, mas na situação de mais um leitor apenas, um amante da leitura. Alguém que acredita que a experiência de estar no mundo pode ser profundamente enriquecida por meio do livro. Alguém que acredita que abrir um livro é abrir um mundo novo, um mundo inteiramente desconhecido. Alguém que acredita que é possível, com um espaço assim, expressar seu agradecimento ao grande número de autores que foram e são capazes de desvelar o mundo com sua escritura. A ideia básica é trazer para este espaço ao longo do tempo passagens de alguns dos livros considerados indispensáveis - e não precisamos nos limitar a eles - para quem deseja adquirir o gosto pela leitura. Para que os leiamos juntos. Para que criemos juntos um espaço para comentários, observações, curiosidades, perguntas e quaisquer tipos de informações adicionais, necessárias ou pertinentes ao assunto de que tratamos no momento. Enfim, gostaria que todos os interessados viessem a este lugar de mente e coração abertos. Deixando de lado quaisquer preconceitos em relação a este ou àquele gênero ou tipo de literatura. O que importa aqui é ler. E compartilhar da maneira mais honesta e clara possível a impressão que se tem ou teve daquilo que se leu. Partimos do princípio de que sempre podemos aprender com quem quer que esteja disposto a se manifestar. Todos estão convidados a entrar. Abre-se pois, aqui, a Sala de Leitura. Espero-os(as).

segunda-feira, 5 de março de 2018

Será mesmo que tudo o que há para dizer já foi dito?


Olá, mais uma vez, a quem estiver atento ou a quem passar por aqui, por descuido ou acidente de navegação.

Há quanto tempo não sento em frente ao computador para alimentar esta página? Já lá se vão bem uns cinco, quase seis, anos.

Por quê?

Ora, porque parece sempre há tanto a se fazer. Tanto para ler. Tanta preguiça. Tanto adiamento. E, depois, a sensação, sempre presente, pelo que ouço dizer, em todos os que escrevem, de que já não há praticamente mais nada a se dizer. Tudo já foi dito. E bem dito. Apesar de que mais bem dito por uns do que por outros. Claro que em se pensando na forma que cada um tem de ler. Sempre. Nos filtros e nas referências pessoais e particulares de cada um. Em sua experiências. E, por que não?, no gosto particular de cada um. Em suas preferências.

Eis-me aqui de novo, porém. De que livro lhes vou falar desta vez?

Quantos livros li nestes cinco, quase seis, anos que se passaram desde a última publicação? Quantos poderia recomendar? Quantos creio serem leituras importantes para todos? Com quantos podemos nos deleitar? Viajar a outros lugares, outros tempos, outras experiências de vidas, que complementem a nossa, que a enriqueçam e deem mais colorido a ela?

Li, no ano passado, Menina a Caminho, de Raduan Nassar, seu primeiro trabalho de ficção. Recomendo muito. Precisamos - e uma boa experiência para cada leitor, acredito - caminhar junto da menina, protagonista do primeiro dos contos, e título do livro, enquanto ela percorre as ruas de uma pequena cidade do interior. É claro que, seduzidos pela sucessão de situações corriqueiras, vamos continuar, como ela, a caminhar, pelas palavras do autor, na direção de "um desfecho que recupera dramaticamente o que se encontrava disperso ao longo do trajeto".

Outro conto do livro que me chamou a atenção se chama Aí pelas três da tarde, um texto curtíssimo, menos do que duas páginas, com uma força descomunal, que descreve a fantasia de um homem e de seu impulso de largar tudo para ver a surpresa de sua família, e dar um mergulho na rede para gozar "a fantasia de se sentir embalado pelo mundo".

Taí uma nova dica. A primeira deste novo tempo, neste espaço: Menina a Caminho. Tenho certeza de que quem o ler vai gostar muito.

Depois deste, podemos voltar, quem sabe?, nosso olhar para o livro a chave de casa, o romance de estreia de Tatiana Salem Levy. Um livro denso e cheio de mistério, de suspense - no sentido de que não é possível saber aonde a história vai dar -, antes de a autora desvendar o que se passa, falando em dois, três ou mais níveis diferentes. Contando uma história e, a partir dela, deixando fluir na narrativa sua experiência pessoal, ao mesmo tempo em que relata o que lhe vai pela cabeça, com respeito a sua relação com o ser amado [?].

Cíntia Moscovich, na primeira orelha do livro, diz o seguinte:

"Neta de judeus turcos, nascida em Lisboa, emigrada para o Brasil aos nove meses de idade, a estreante Tatiana Salem Levy chega, neste a chave de casa, ao ponto que muitos almeja e bem poucos alcançam: condensar o jorro da memória e transformá-lo em literatura.

"Concretizando o que denomina de 'autoficção', a autora tece um romance de vozes diversas - como são as vozes da memória -, histórias que se complementam num tom de densa estranheza. Tudo se inicia quanto a personagem-narradora recebe do avô a chave da casa da família deixada para trás, no tempo e na distância, em Esmirna. Rumo à Turquia, toca a ela procurar a herança passada, tarefa a que se entrega não sem medo e expectativa de modificar seu próprio presente.

"Passando por temas como a morte da mãe e a relação com um homem violento - dores exploradas nos extremos do lirismo e da crueldade -, Tatiana demonstra grande pendor para o gênero a que se dedica. Escritora refinada, capaz de frases torneadas com precisão e de cortes e elipses nunca menos que exatos, o romance seduz pelo apelo sensorial, pela extrema competência narrativa e, em especial, por um alto sentido de humanidade.

"Sobre os estilhaços da memória individual, Tatiana soube assentar as bases de uma literatura singular e vigorosa."

Esta foi uma de minhas leituras de 2014. Recomendo também.

Por hoje é isto.

Penso que agora, quer dizer, de agora em diante, eu talvez possa voltar a falar de livros aqui com mais frequência.

Fiquem, por favor, à vontade para comentar.


terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Não há como fugir à magia do olhar de Rosa


Bons dias a todos!

Estimulado pela adesão de mais uma amiga, volto a falar de livros e de leituras, depois de algum tempo sem entrar nesta sala.

Acho que andei negligenciando até o que é uma necessidade pessoal, que é a de dividir com amigos, conhecidos e com quem quer que se apresente e goste de ler, de livros e de "causos" acerca de livros, de leituras e de autores.

Não lembro se já comentei aqui que participo, desde 2008, de um grupo de leitura de Guimarães Rosa, na USP, no Instituto de Estudos Brasileiros - o IEB. Para quem se interessar, é um grupo aberto, não se faz uma leitura formal e não se trabalha sob a perspectiva da crítica ou da análise literárias. É uma atividade que visa a tão somente abrir aos participantes a possibilidade do deleite e do prazer, a partir da escrita rosiana.

É claro que, algumas vezes, temos a presença de professores, que estão a escrever suas teses de mestrado e doutorado, e de estudantes que escrevem seus TCCs, além de escritores e autores que já se debruçaram sobre a obra do autor e publicaram suas impressões e estudos, para esclarecimento e melhor entendimento das dimensões da obra, mas mesmo estes não comparecem senão para dividir o encanto que encontraram na leitura de Rosa ou para mostrar algum aspecto que, por vezes, pode ter passado despercebido para um ou outro estudioso, ou ainda para mostrar um novo ângulo a partir do qual podemos olhar para a obra enriquecendo nossa experiência de leitores.

Este começo assim é apenas para dizer que, uma vez feito o contato com o texto rosiano, não há como fugir à magia com a qual o olhar de Rosa para o mundo nos enfeitiça e encanta. Assim é que, a partir de 2008, e nos anos que se seguiram, vi-me compelido a "montar" uma "rosiana". Isto é, comecei a comprar e ler tudo o que me chegava às mãos e que tratava - e trata - da obra de Guimarães Rosa.

Hoje mesmo, acabei de ler um livro com um título, eu diria, um tanto esdrúxulo para quem não está familiarizado com o "bruxo da linguagem", conforme Consuelo Albergaria. O livro se chama: "Conjunctio Oppositorum no GRANDE SERTÃO". Escrito como dissertação de mestrado em Filosofia, por Ricardo Guilherme Dicke, em 1982, ele trata de mostrar ao leitor de Rosa, como é que se dá a União dos Opostos, ao longo de toda a epopeia narrada por Riobaldo no Grande Sertão: Veredas. E considera e defende para Diadorim o posto de personagem principal do livro, por conjugar todas as oposições em si.

Para quem ainda não leu Guimarães Rosa e, especificamente, o Grande Sertão, vale chamar a atenção para o que Dicke traz, citando Nelly Novaes Coelho, como forma de diferenciar o modo de escrever de Rosa, comparado a outros escritores contemporâneos seus. Diz Nelly, citada por Dicke:

"Múltiplas foram as descobertas que ela [a obra de Guimarães Rosa] trouxe ou provocou, e uma das que de imediato tocou seu leitor foi a da alegria vital que o homem civilizado perdera (ou perdeu?).

"Alegria como dinâmico estado de espírito; júbilo estranho que arraiga fundo no ser, a despeito dos contrários e desconformes da vida (ou talvez devido a eles), é o que caracteriza o herói rosiano, - homem organicamente integrado no universo, e vórtice em que confluem forças contraditórias.

"Note-se que o desenlace de todas as narrativas de Guimarães Rosa fogem ao pessimismo e à desesperança que marca certa linha da literatura contemporânea, - a literatura que reflete o homem 'dessacralizado', o homem que, com a perda de Deus, perdeu seu equilíbrio vital e sua ligação com o universo.

"Paralelamente a essa alegria essencial, se afirma na personagem rosiana uma nova e selvagem religiosidade. Um espírito religioso primitivo, quase violento, de onde a antiga mansidão e êxtase espirituais, características da consciência cristã ortodoxa, estão totalmente ausentes. A religião vivida pelo herói rosiano é de outra natureza: aproxima-se do sentido primitivo do termo, guardado em seu significado etimológico: 'religio', - re-ligação do homem ao universo cósmico, ao que transcende o seu entendimento, mas que abarca o humano como parte do todo."

Que lhes parece isso como estímulo à leitura de Guimarães Rosa?

Como eu digo cada vez que publico um texto novo, espero voltar mais frequentemente e em intervalos menores para repartir com vocês as emoções e descobertas a que me levam minhas leituras. Creio que a partir de agora, vai ser possível.

E para registrar o estímulo que me fez cometer este novo texto, quero deixar meu agradecimento por você se ter juntado a nós, Mara. Bem-vinda. Espero que possamos você e eu, e quem mais quiser, trocar ideias e impressões acerca dos livros que nos emocionam e enriquecem nossa experiência. Fique, por favor, à vontade para publicar também seus comentários e insights a partir de leituras, livros e autores. Assim como estão todos mais uma vez convidados a isto.

Até logo!



quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Um novo recomeço? Redundância?


Olá,

Há quanto tempo, não?

Esta é mais uma tentativa de voltar a falar de minhas leituras, dos livros que li, dos que estão na fila esperando para serem abertos e de alguma coisa do que aprendi com eles.

Espero que, a partir desta postagem, eu consiga não me demorar mais por tanto tempo, para lhes oferecer um cardápio de leituras recheado de delícias, apresentando-lhes os mais variados temperos e sabores. Para que juntos aprendamos a provar um pouco de tudo, a desfrutar um pouco de tudo, ou de quase tudo, o que escritores do mundo inteiro reservam para aqueles que ousam abrir os livros que brotaram de sua imaginação e/ou de sua experiência.

Para cumprir, em parte, o que prometi da última vez, vamos voltar ao livro de Dave Eggers: O que é o Quê?

Bem, para começar, posso dizer que o livro escrito por Eggers é, na verdade, como se pode ver em seu subtítulo, a Autobiografia de Valentino Achak Deng.

Como?

Sim, pode parecer estranho, a princípio, mas é isto mesmo. O que Eggers faz é dar voz a um dos Meninos Perdidos do Sudão. Ora, dirão vocês, o que é isso? E eu lhes respondo, é preciso ler o livro para se ter uma ideia do que vem a ser esta coisa de "Meninos Perdidos do Sudão".

Para facilitar um pouquinho dou-lhes abaixo uma pequena resenha do que é o livro, retirada da última capa, que diz o seguinte:

"Em um país dividido ao meio por crenças religiosa e interesses econômicos, 20 mil crianças, [em sua] maioria órfãs, são obrigadas a atravessar a pé milhares de quilômetros de floresta e deserto em busca de refúgio. Acossadas por milicianos a serviço do governo, por rebeldes e pelas próprias Forças Armadas, elas enfrentam a fome, sede, calor escaldante, doenças e animais selvagens a caminho da Etiópia e, de lá, rumo a um campo de refugiados no Quênia. São os Meninos Perdidos do Sudão - um país que passou cerca de quarenta dos últimos cinqüenta anos em guerra civil.

"Valentinho Achak Deng é um desses meninos. Depois de presenciar a destruição de sua aldeia natal em 1983 e de, aos sete anos de idade, atravessar metade do Sudão a pé, Deng passou treze anos em campos de refugiados, até emigrar para os Estados Unidos em 2001. Lá, conheceu o escrito Dave Eggers, para quem narrou essa história pessoal e coletiva de incomensurável valor humano, transformada neste romance em forma de autobiografia, que, além de uma lição de vida e persistência, nos dá a dimensão exata do poder da literatura."

Um trabalho e tanto de Eggers, que escreveu também, entre outros, um livro intitulado Os Monstros, baseado no livro ilustrado Onde vivem os monstros, de Maurice Sendak, e no roteiro do filme homônimo, escrito por D. E. E Spike Jonze.

Eggers, que nasceu em Boston, em 1970, fundou uma editora independente em São Fransciso, a McSweeney's, e é co-fundador da 826 National, uma instituição de ensino e incentivo da escrita para crianças e adolescentes.

Acho que é importante dizer também, para quem quiser ler o O que é o Quê, que toda a renda obtida com o livro será revertida para a Fundação Valentino Achak Deng, que distribui dinheiro para refugiados sudaneses nos Estados Unidos; para a reconstrução do sul do Sudão, a começar por Marial Bai; para organizações que trabalham para a obtenção da paz e que prestam auxílio humanitário em Darfur.

Pode-se obter mais informações no site:

www.valentinoachakdeng.org.

Acho que por enquanto é isto.

Espero encontrá-los por aqui em breve.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Voltando à Sala de Leitura. Retomando a jornada.


Pensava outro dia, o quanto gostaria de ter retomado as postagens nesta sala sem me ocorrer razão alguma para que não o fizesse.

No final do ano passado, ensaiei algumas tentativas de indicar algumas leituras que marcaram meu ano, mas não cheguei a concretizar nenhuma. E lá se vai mais de um ano, desde setembro de 2009, antes de dividir com vocês alguns livros, que podem vir a ser importantes como instrumentos de descoberta pessoal que, ao mesmo tempo, levam ao prazer, porque capazes de encurtar a distância que existe entre o que pensamos ser e o que, de fato, somos. Uma distância que só existe na mente de muitos de nós, levados a pensar em uma separação entre o que somos e vivemos, que não tem base nenhuma para se sustentar.

Bem, recomecemos, pois, nossa aproximação deste objeto que assusta tanto a tantos, mas que é absolutamente prazeroso - quase um vício - para um grande número de pessoas. Nós, os que frequentam esta sala e eu, entre elas. Que ainda não somos tantos assim.

Retomemos nossa viagem devagar, para desfrutar do prazer de ler sem medo de nos desviarmos de quaisquer caminhos, afinal todos os caminhos que têm um coração, parafraseando Don Juan, o "brujo" de Castañeda, valem a pena ser trilhados. Não concordam?

De minhas leituras mais recentes, quero lhes indicar dois ou três livros em particular. Cada um deles descortina um mundo desconhecido para muitos, familiar, talvez, a outros tantos, mas, de qualquer forma um mundo que faz parte de nossa existência humana e que merece - e muito - ser conhecido.

O primeiro deles se intitula Pequena Abelha, um livro - o segundo, se não me engano - de Chris Cleave. Acredito que todos que o lerem vão gostar muito. Mas não posso dizer por quê. Para deixá-los curiosos, vou citar o que ele traz em sua última capa, o que, talvez, possa lhes chamar a atenção e levá-los a lê-lo. É o seguinte:

"Não queremos lhe contar o que acontece neste livro.

"É realmente uma história especial, e não queremos estragá-la.

"Ainda assim, você precisa saber algo para se interessar, por isso vamos dizer apenas o seguinte:

"Esta é a história de duas mulheres cujas vidas se chocam num dia fatídico. Então, uma delas precisa tomar uma decisão terrível, daquelas qeu, esperamos, você nunca tenha de enfrentar. Dois anos mais tarde, elas se reencontram. E tudo começa...

"Depois de ler este livro, você vai querer comentá-lo com seus amigos. Quando o fizer, por favor, não lhes diga o que acontece. O encanto está sobretudo na maneira como esta narrativa se desenrola."

Que tal? Parece-lhes atraente a ideia de ler uma história assim? À vontade, por favor. Depois me digam, se quiserem, o que acharam.

Não vou falar do outro livro agora. Só indicá-lo. Trata-se do livro O QUE É O QUÊ, de Dave Eggers. Um livro escrito em 2006. Mas vou reservar qualquer comentarário a respeito de algumas de minhas impressões sobre ele para a próxima postagem.

Não há como não falar, no entanto, do terceiro. É um dos livros de Clarice Lispector, que se chama Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres. Vou comentar, mais tarde, como fui levado a lê-lo. Por enquanto, posso lhes dizer apenas, a título de aproximação, o que diz o editor nas orelhas do livro e que é o que segue:

"Ela jamais soube - melhor, jamais se interessou por saber - exatamente o que, de um ponto de vista crítico, literário, significa 'escrever'. As definições, as conceituações, de qualquer tipo e origem, entravam-lhe, como se diz, por um ouvido e saíam pelo outro...

"No entanto, será raro encontrar alguém, entre os melhores escritores seus contemporâneos, que se tenha deixado tomar com tanta liberdade, de forma tão indefesa, tão desamparada e nua, pelo ato de escrever.

"Seus textos quase não têm uma história, um enredo. Neles o leitor é projetado, sem maior cerimônia, para dentro do próprio ato criador; parece que Clarice está sempre dizendo: 'Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Pergunte, sem querer "a" resposta, como eu estou perguntando. Não se preocupe em "entender". Viver ultrapassa todo entendimento'.

"Talvez os livros de Clarice, para além (ou aquém...) de tudo que os especialistas já comentaram e ainda vão comentar, tenham por objetivo 'pedir' ao leitor que se despoje de suas próprias imagens - psicológicas, afetivas, sociais, culturais, políticas, etc. -, se desmonte, se desarticule e se faça renascer segundo a medida do texto: que ao lê-lo, ele passe pelo mesmo processo que ela, Clarice, ao escrevê-lo. Isto é, escrever/viver são apenas uma aprendizagem, cujo percurso se inicia, se desdobra e se resolve no prazer de afirmar:
'Eu sou tua e tu és meu, e nós é um'."

Creio que isto já é suficiente para um recomeço. Não lhes parece assim?

Espero encontrá-los em breve comentando o que acharam das leituras que lhes indiquei. E mais até, se possível, indicando também as leituras que fizeram e dividindo com todos nós as impressões e os prazeres despertados por este ou aquele livro e/ou escritor ou escritora.

Um bom 2011 de leituras a todos.

Até a próxima que, espero, seja em breve.