segunda-feira, 5 de março de 2018

Será mesmo que tudo o que há para dizer já foi dito?


Olá, mais uma vez, a quem estiver atento ou a quem passar por aqui, por descuido ou acidente de navegação.

Há quanto tempo não sento em frente ao computador para alimentar esta página? Já lá se vão bem uns cinco, quase seis, anos.

Por quê?

Ora, porque parece sempre há tanto a se fazer. Tanto para ler. Tanta preguiça. Tanto adiamento. E, depois, a sensação, sempre presente, pelo que ouço dizer, em todos os que escrevem, de que já não há praticamente mais nada a se dizer. Tudo já foi dito. E bem dito. Apesar de que mais bem dito por uns do que por outros. Claro que em se pensando na forma que cada um tem de ler. Sempre. Nos filtros e nas referências pessoais e particulares de cada um. Em sua experiências. E, por que não?, no gosto particular de cada um. Em suas preferências.

Eis-me aqui de novo, porém. De que livro lhes vou falar desta vez?

Quantos livros li nestes cinco, quase seis, anos que se passaram desde a última publicação? Quantos poderia recomendar? Quantos creio serem leituras importantes para todos? Com quantos podemos nos deleitar? Viajar a outros lugares, outros tempos, outras experiências de vidas, que complementem a nossa, que a enriqueçam e deem mais colorido a ela?

Li, no ano passado, Menina a Caminho, de Raduan Nassar, seu primeiro trabalho de ficção. Recomendo muito. Precisamos - e uma boa experiência para cada leitor, acredito - caminhar junto da menina, protagonista do primeiro dos contos, e título do livro, enquanto ela percorre as ruas de uma pequena cidade do interior. É claro que, seduzidos pela sucessão de situações corriqueiras, vamos continuar, como ela, a caminhar, pelas palavras do autor, na direção de "um desfecho que recupera dramaticamente o que se encontrava disperso ao longo do trajeto".

Outro conto do livro que me chamou a atenção se chama Aí pelas três da tarde, um texto curtíssimo, menos do que duas páginas, com uma força descomunal, que descreve a fantasia de um homem e de seu impulso de largar tudo para ver a surpresa de sua família, e dar um mergulho na rede para gozar "a fantasia de se sentir embalado pelo mundo".

Taí uma nova dica. A primeira deste novo tempo, neste espaço: Menina a Caminho. Tenho certeza de que quem o ler vai gostar muito.

Depois deste, podemos voltar, quem sabe?, nosso olhar para o livro a chave de casa, o romance de estreia de Tatiana Salem Levy. Um livro denso e cheio de mistério, de suspense - no sentido de que não é possível saber aonde a história vai dar -, antes de a autora desvendar o que se passa, falando em dois, três ou mais níveis diferentes. Contando uma história e, a partir dela, deixando fluir na narrativa sua experiência pessoal, ao mesmo tempo em que relata o que lhe vai pela cabeça, com respeito a sua relação com o ser amado [?].

Cíntia Moscovich, na primeira orelha do livro, diz o seguinte:

"Neta de judeus turcos, nascida em Lisboa, emigrada para o Brasil aos nove meses de idade, a estreante Tatiana Salem Levy chega, neste a chave de casa, ao ponto que muitos almeja e bem poucos alcançam: condensar o jorro da memória e transformá-lo em literatura.

"Concretizando o que denomina de 'autoficção', a autora tece um romance de vozes diversas - como são as vozes da memória -, histórias que se complementam num tom de densa estranheza. Tudo se inicia quanto a personagem-narradora recebe do avô a chave da casa da família deixada para trás, no tempo e na distância, em Esmirna. Rumo à Turquia, toca a ela procurar a herança passada, tarefa a que se entrega não sem medo e expectativa de modificar seu próprio presente.

"Passando por temas como a morte da mãe e a relação com um homem violento - dores exploradas nos extremos do lirismo e da crueldade -, Tatiana demonstra grande pendor para o gênero a que se dedica. Escritora refinada, capaz de frases torneadas com precisão e de cortes e elipses nunca menos que exatos, o romance seduz pelo apelo sensorial, pela extrema competência narrativa e, em especial, por um alto sentido de humanidade.

"Sobre os estilhaços da memória individual, Tatiana soube assentar as bases de uma literatura singular e vigorosa."

Esta foi uma de minhas leituras de 2014. Recomendo também.

Por hoje é isto.

Penso que agora, quer dizer, de agora em diante, eu talvez possa voltar a falar de livros aqui com mais frequência.

Fiquem, por favor, à vontade para comentar.