quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
Voltando à Sala de Leitura. Retomando a jornada.
Pensava outro dia, o quanto gostaria de ter retomado as postagens nesta sala sem me ocorrer razão alguma para que não o fizesse.
No final do ano passado, ensaiei algumas tentativas de indicar algumas leituras que marcaram meu ano, mas não cheguei a concretizar nenhuma. E lá se vai mais de um ano, desde setembro de 2009, antes de dividir com vocês alguns livros, que podem vir a ser importantes como instrumentos de descoberta pessoal que, ao mesmo tempo, levam ao prazer, porque capazes de encurtar a distância que existe entre o que pensamos ser e o que, de fato, somos. Uma distância que só existe na mente de muitos de nós, levados a pensar em uma separação entre o que somos e vivemos, que não tem base nenhuma para se sustentar.
Bem, recomecemos, pois, nossa aproximação deste objeto que assusta tanto a tantos, mas que é absolutamente prazeroso - quase um vício - para um grande número de pessoas. Nós, os que frequentam esta sala e eu, entre elas. Que ainda não somos tantos assim.
Retomemos nossa viagem devagar, para desfrutar do prazer de ler sem medo de nos desviarmos de quaisquer caminhos, afinal todos os caminhos que têm um coração, parafraseando Don Juan, o "brujo" de Castañeda, valem a pena ser trilhados. Não concordam?
De minhas leituras mais recentes, quero lhes indicar dois ou três livros em particular. Cada um deles descortina um mundo desconhecido para muitos, familiar, talvez, a outros tantos, mas, de qualquer forma um mundo que faz parte de nossa existência humana e que merece - e muito - ser conhecido.
O primeiro deles se intitula Pequena Abelha, um livro - o segundo, se não me engano - de Chris Cleave. Acredito que todos que o lerem vão gostar muito. Mas não posso dizer por quê. Para deixá-los curiosos, vou citar o que ele traz em sua última capa, o que, talvez, possa lhes chamar a atenção e levá-los a lê-lo. É o seguinte:
"Não queremos lhe contar o que acontece neste livro.
"É realmente uma história especial, e não queremos estragá-la.
"Ainda assim, você precisa saber algo para se interessar, por isso vamos dizer apenas o seguinte:
"Esta é a história de duas mulheres cujas vidas se chocam num dia fatídico. Então, uma delas precisa tomar uma decisão terrível, daquelas qeu, esperamos, você nunca tenha de enfrentar. Dois anos mais tarde, elas se reencontram. E tudo começa...
"Depois de ler este livro, você vai querer comentá-lo com seus amigos. Quando o fizer, por favor, não lhes diga o que acontece. O encanto está sobretudo na maneira como esta narrativa se desenrola."
Que tal? Parece-lhes atraente a ideia de ler uma história assim? À vontade, por favor. Depois me digam, se quiserem, o que acharam.
Não vou falar do outro livro agora. Só indicá-lo. Trata-se do livro O QUE É O QUÊ, de Dave Eggers. Um livro escrito em 2006. Mas vou reservar qualquer comentarário a respeito de algumas de minhas impressões sobre ele para a próxima postagem.
Não há como não falar, no entanto, do terceiro. É um dos livros de Clarice Lispector, que se chama Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres. Vou comentar, mais tarde, como fui levado a lê-lo. Por enquanto, posso lhes dizer apenas, a título de aproximação, o que diz o editor nas orelhas do livro e que é o que segue:
"Ela jamais soube - melhor, jamais se interessou por saber - exatamente o que, de um ponto de vista crítico, literário, significa 'escrever'. As definições, as conceituações, de qualquer tipo e origem, entravam-lhe, como se diz, por um ouvido e saíam pelo outro...
"No entanto, será raro encontrar alguém, entre os melhores escritores seus contemporâneos, que se tenha deixado tomar com tanta liberdade, de forma tão indefesa, tão desamparada e nua, pelo ato de escrever.
"Seus textos quase não têm uma história, um enredo. Neles o leitor é projetado, sem maior cerimônia, para dentro do próprio ato criador; parece que Clarice está sempre dizendo: 'Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Pergunte, sem querer "a" resposta, como eu estou perguntando. Não se preocupe em "entender". Viver ultrapassa todo entendimento'.
"Talvez os livros de Clarice, para além (ou aquém...) de tudo que os especialistas já comentaram e ainda vão comentar, tenham por objetivo 'pedir' ao leitor que se despoje de suas próprias imagens - psicológicas, afetivas, sociais, culturais, políticas, etc. -, se desmonte, se desarticule e se faça renascer segundo a medida do texto: que ao lê-lo, ele passe pelo mesmo processo que ela, Clarice, ao escrevê-lo. Isto é, escrever/viver são apenas uma aprendizagem, cujo percurso se inicia, se desdobra e se resolve no prazer de afirmar:
'Eu sou tua e tu és meu, e nós é um'."
Creio que isto já é suficiente para um recomeço. Não lhes parece assim?
Espero encontrá-los em breve comentando o que acharam das leituras que lhes indiquei. E mais até, se possível, indicando também as leituras que fizeram e dividindo com todos nós as impressões e os prazeres despertados por este ou aquele livro e/ou escritor ou escritora.
Um bom 2011 de leituras a todos.
Até a próxima que, espero, seja em breve.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Obrigada pelo regresso Moisés. Aqui estou atenta às tuas leituras e tentada a seguir uma ou outra, assim encontre tempo para o fazer... Prometo comentar as que fizer.
ResponderExcluirObrigado, querida.
ResponderExcluirAinda bem que há gente atenta nesta rede, não?
Beijos.