E olha o fim de junho aí. Já nem falo mais no livro do Hatoum. Emperrou. Estancou. Alguém se habilita a informar o que leu nestes últimos trinta dias? Desconfio que esta Sala de Leitura tem estado vazia. Ou porque já não encontramos quem goste de ler, ou porque os poucos que leem já não querem dividir os prazeres a que foram alçados a partir do que leram. Querem manter o segredo de sua relação com o autor ou autora com quem viajaram. Ou viajam ainda.
Não há de ser nada. Aqui, com relação a isso, eu não tenho nada a esconder. Li muito desde a última postagens. Coisas que folheei aqui e ali. Entre elas, um livro de Irvin D. Yalom, o autor de Quando Nietzsche Chorou, chamado Os desafios da terapia. Muito interessante, tanto para pacientes e interessados, quanto para quem se dedica ao trabalho com pessoas, buscando lhes ser de auxílio na auto-descoberta e, quando é o caso, na cura dos males que nos afligem a todos algumas vezes.
Também li alguns contos de Guimarães Rosa. Uns com um grupo de leitura que se reúne às quartas no IEB - Instituto de Estudos Brasileiros, na USP, aberto a interessados. Outros, um em particular, Páramo, por indicação de uma amiga que participa deste grupo. Vale a pena citar o que Rosa diz já no início do conto:
Sei, irmãos, que todos já existimos, antes, neste ou em diferentes lugares, e que o que cumprimos agora, entre o primeiro choro e o último suspiro, não seria mais que o equivalente de um dia comum, senão que ainda menos, ponto e instante efêmeros na cadeia movente: todo homem ressuscita ao primeiro dia.
E um pouco adiante: Só este é o grande suplício: ainda não ser.
Li ainda dois livros de Mia Couto, grande escritor moçambicano de língua portuguesa. O primeiro, um livro de contos intitulado O fio das missangas, traz verdadeiros achados. Tanto no que se refere à linguagem, quanto no que se refere à profundidade das ideias que oferece. Alguns exemplos soltos:
"falar é fácil. Custa é aprender a calar."
"Minha sabedoria é ignorar as minhas originais certezas. O que interessa não é a língua materna, mas aquela que falamos mesmo antes de nascer."
"Uns aprendem a andar. Outros aprendem a cair. Conforme o chão de um é feito para o futuro e o de outro é rabiscado para sobrevivência."
"... criancice é como o amor, não se desempenha sozinha. Faltava aos pais serem filhos, juntarem-se miúdos com o miúdo. Faltava aceitarem despir a idade, desobedecer ao tempo, esquivar-se do corpo e do juízo. Esse é o milagre que um filho oferece - nascermos em outras vidas."
O segundo, um romance que leva o título Terra Sonâmbula e trata da guerra anticolonial e civil com que conviveu o povo moçambicano por quase trinta anos. Talvez o livro mais importante da carreira de Mia Couto. O mais forte e mais pungente ao relatar, de acordo com a primeira orelha do livro, com "um meticuloso trabalho de lapidação poética ... as mitologias tribais e os casos que circulam de boca em boca pelos meandros da cultura oral africana, bastião de resistência num país como Moçambique..." Imperdível!
E, para não esquecer e não deixar passar em branco, li também um livro de memórias de uma escritora chamada A. M. Homes, cujo título é A encomenda. A autora, filha adotada ainda bebê, narra sua intensa busca por informações acerca de sua família biológica [há também a busca de dados da família que a adotou], ao receber a informação reveladora de quem eram seus pais. Um relato extremamente honesto e claro, e muito bem escrito, pontuado pelos conflito psicológico e pelos conflitos pessoais e de relacionamento familiar que a descoberta gerou. Tanto com a família que recebeu "a encomenda" quanto com as pessoas que deveriam ter sido sua família ao nascer.
Por fim, quero dar as boas vindas a nossa nova seguidora, a Silvina 0707, apesar de achar que ela entrou nesta sala por engano, em busca de milagres. Quem sabe alguma de nossas leituras pode lhe dar o que ela busca. Bem vinda, Silvina. Espero que você curta. E que contribua, pois não?
segunda-feira, 29 de junho de 2009
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